quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Episódio Paquetá

Existia um tempo em que o relacionamento entre homens e mulheres era construído com muito romantismo. O homem galanteador por natureza, fazia o máximo para satisfazer os desejos, mesmo que secretos de suas pretendentes. Vou contar-lhes um fato que exemplifica como as coisas hoje em dia mudaram. Certa quinta-feira de feriado, estava eu Julieta, com dúvidas sobre o que faria no dia de folga, até que trocando uma idéia com Romeu obtive a seguinte explanação:
-Ah, eu vou sair de manhã cedo e quero sossego, vou pescar, se tu quiser vir comigo...
Pensei cá com meus botões: acho que ele não tem consciência do que representa pra mim, talvez ele estivesse meio nervoso. Se bem que para um mês de namoro isso não é justificativa. Mas ah, chegando lá vai ser tudo diferente, vou acompanhando o meu amado. Respondi então:
-Tudo bem, amanhã te busco as 10horas.
No dia seguinte, fui buscar o príncipe em casa. Para meu desencanto ele não estava angustiosamente me aguardando. Esperei uns 10 minutos para que a donzela descesse.
Com um mau humor terrível; Romeu desceu a escadaria com sua tez de sono.
Descemos em direção a terra da pescaria: Paquetá. O caminho até lá é encantador... banhado, terra, poeira, casebres, cachorros de rua, pedras... todos os encantos do brejo a disposição do olhar...
Chegando lá, a água turva da prainha, aquele vento forte que descabela até pensamento, poças de lama alternadas com terra, areia e dejetos de animais. Romeu perguntou se eu queria jogar sinuca (jogo que na minha cultura, só é praticado em butiquins por pessoas alteradas devido a ingestão compulsiva de bebida alcoólica).
"-Pra quem nunca jogou tu esta muito bem". Disse Romeu. Não contei pra ele que já tinha jogado isso uma vez no boteco com meu pai, experiências da infância.
Romeu desistiu de jogar comigo, ele já tinha ganho, passou para minha cunhadinha terminar o jogo comigo enquanto ele ia disputar uma emocionante partida de bocha ( jogo que na minha cultura também só é praticado em butiquins por pessoas alteradas devido a ingestão compulsiva de bebida alcoólica ou então senhores de idade que já não tem mais tantas preocupações a não ser não fazer nada ou jogar bocha).
Na primeira vez que ele foi em minha casa, preparei para ele um super almoço, havia uma carne
especial e macia para o churrasco, como ele gosta, fiz variedades de saladas. Tratei o moço muito bem, obrigada. Lembrei de comentar esse episódio já que na hora de participar do churrasco do
Paquetá, quase não consegui mastigar a carne já que esta, tinha a consistência de um pucha pucha.
Ainda bem que além do churras havia uma salada de batatas e arroz. A panela do cozimento devia ter sido lavada com uma espátula ao invés de uma esponja. Que saudade da minha casa, onde a esponja não é limpa como o pano de uma oficina mecânica.
A parte alta do romantismo foi quando eu, Julieta, sentada sozinha de frente para o mar (poluído do Paquetá), percebo Romeu vindo em minha direção. Ele pergunta:
-Amor, tu esta se divertindo aqui?
-Sim, claro, tudo calmo, tranqüilo, o ventinho forte, é bom pra pensar na vida...
-Ah se tu quiser ir embora...
-Eu, ir, agora. E tu vai comigo?
-Não! Eu vou ficar, se tu quiser, pode ir.
Nunca pensei que pudesse pensar nisso... Achou que eu Julieta, vinda de uma terra encantada e limpinha pudesse não estar feliz alí, ao lado dele, de frente para a poluição, barro, poeira, sujeira, e cheiro de carniça (esqueci de comentar que o bichano que nos rodeava estava cheirando a bicho morto).
Essa aventura terminou após o almoço. Logo, fomos para o shopping, boa comida, clima agradável, cinema, civilidade de volta. Acho que nunca me senti tão bem. Embora sentia que estava escrito em minha testa que vim do Paquetá. Juro que não tenho nada contra quem mora por lá, mas para mim que não estou acostumada, é difícil uma mudança tão brusca de ambiente. Tem gente que gosta de morar na cidade, outras no campo, outras no litoral e outras no Paquetá.
Ao voltar do cinema comentei:
-Romeu, acho que a melhor parte de nosso passeio de hoje foi essa da tarde não é?
Silêncio.
Silêncio.
-Não é?
-Nem vou te responder nada!
Assinado.

Julieta a procura do Romeu do passado.

2 comentários:

  1. Li. Gostei. Ri. Achei TRI ! Parabéns! O texto é super-ultra-mega-hiper divertido! Abçs, até breve... Lígia

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  2. Tua crônica ficou irada: é comica e engraçada.

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