segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Fernando Pessoa

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos..
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Don Juan

Ele era apenas mais um colega de trabalho... Assim que o vi, prestei atenção no  seu jeitinho de artista de TV. Logo eu, Julieta a procura de alguém com quem pudesse passear no parque de mãos dadas, não poderia deixar essa oportunidade passar de forma alguma.

O observei por algum tempo, não sabia de sua linhagem, sua origem ainda era desconhecida. Comecei a investigar e descobri muito de sua existência. Sabia que não havia ninguém no caminho, estava tudo liberado para mim. Para minha surpresa Don Juan também estava me observando, quando lhe falaram sobre outras donzelas do castelo, ele imediatamente quis saber sobre mim: -Mas e a Julieta?

Julieta está a procura do príncipe encantado, lhe disseram.

Começamos a nos conhecer quando, em uma bela tarde de sol, paro tudo para ouvir Don Juan me passar a mais inusitada novidade:
-Nem sabe, estava eu a cortar minhas longas madeixas quando a cabeleireira me convidou pra sair. Falei a ela que não tinha nada a ver porque agora estou namorando. Vou continuar sendo cliente assíduo do estabelecimento, nada a ver não é?

Aprendi que de incomodações a gente foge, por que cargas d'água Don Juan iria novamente cortar o cabelo e desta vez, também fazer as unhas com essa moça? (diga-se de passagem as unhas deles são mais cuidadas que as minhas, ou seja, ele frequenta muito o lugar). Percebi naquele instante que o nome dele já dizia tudo: Don Juan.

Nesta vida tenho grandes amigas, Jacobina é uma delas. Por estar com Don ela à tempos não me presenteia com seus sorrisos nem com um "com licença", quero passar, obrigada". Certo dia a cumprimentei: - Bom dia Jacobina. Tadinha, estava tão concentrada que achou que a parede que estava ao lado tinha falado com ela, só pode. Pobre de minha pessoa, fui condenada por despertar o desprezo da desamparada Jacobina.

Em outra bela tarde de sol, Don Juan chega em sua carroagem para irmos juntos tomar sorvete, porém a condução estava lotada. Havia um casal amigo e um espaço vago, ops, ocupado, Jacobina com seu ar de tenham pena de mim, acabou sendo convidada para entrar.

Fiquei calma, afinal, qual o problema desta carona, não tem nada demais, embora Don Juan sabia que eu não iria gostar da presença de Jacobina ao lado dele. Nunca falamos sobre o assunto, a não ser no dia em que Jacobina descobriu que eu não gostei do episódio. Por incrível que pareça eu fui condenada por não gostar que Jacobina tivesse aceitado a bendita carona do Don, enquanto eu era apedrejada o Don, Ah o Don nada teve de culpa, a não ser agir como bom Don Juan que é.

Quando achava eu que não haviam mais pedras no caminho, chega Efigênia, uma inocência de pessoa. Esta, está acostumada a desfazer enlaces e semear intrigas. Não que eu tenha medo de perder Don para alguém que se parece com a Olívia, mas, Don é Don. Don concorda que ela faça a limpeza de seu castelo, corte suas unhas...O que mais ela vai querer? Ou será que é ele quem quer?

Pra mim, sei que resta pouco. Bom seria achar um Juan que não fosse tão Don.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Signos

"Hoje o céu pode trazer você a se perturbar com a direção que sua vida está tomando. Hoje você quer que o amor tenha intensidade das grandes paixões e a compreenção das grandes amizades."

Fazia tempo que eu não lia o que horóscopo reserva para as pessoas nascidas no mesmo mês que eu, eu que já não confiava no que eles indicavam com essa previsão de hoje, definitivamente não posso me iludir com os conselhos que os astros revelam pra mim.

Queria saber quem são esses astros. Será que eles ja moraram aqui no Brasil, tiveram dificuldade em entrar em uma faculdade, estiveram alguma vez a procura de um bom trabalho, foram estagiários alguma vez nessa vida, foram demitidos injustamente ou tiveram suas atividades perdidas por alguém que tinha um salário maior e fazia praticamente nada.

Quem não vai se perturbar hoje com essa mudança brusca de tempo e temperatura. Enquanto ontem o dia ensoladado, quente, todos comendo sorvete ou tomando qualquer coisa gelada na rua pra se hidratar do calor intenso, hoje, esse friu vento e garoa... Não preciso que os astros me digam que estaria eu me perturbando com o céu.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Episódio Paquetá

Existia um tempo em que o relacionamento entre homens e mulheres era construído com muito romantismo. O homem galanteador por natureza, fazia o máximo para satisfazer os desejos, mesmo que secretos de suas pretendentes. Vou contar-lhes um fato que exemplifica como as coisas hoje em dia mudaram. Certa quinta-feira de feriado, estava eu Julieta, com dúvidas sobre o que faria no dia de folga, até que trocando uma idéia com Romeu obtive a seguinte explanação:
-Ah, eu vou sair de manhã cedo e quero sossego, vou pescar, se tu quiser vir comigo...
Pensei cá com meus botões: acho que ele não tem consciência do que representa pra mim, talvez ele estivesse meio nervoso. Se bem que para um mês de namoro isso não é justificativa. Mas ah, chegando lá vai ser tudo diferente, vou acompanhando o meu amado. Respondi então:
-Tudo bem, amanhã te busco as 10horas.
No dia seguinte, fui buscar o príncipe em casa. Para meu desencanto ele não estava angustiosamente me aguardando. Esperei uns 10 minutos para que a donzela descesse.
Com um mau humor terrível; Romeu desceu a escadaria com sua tez de sono.
Descemos em direção a terra da pescaria: Paquetá. O caminho até lá é encantador... banhado, terra, poeira, casebres, cachorros de rua, pedras... todos os encantos do brejo a disposição do olhar...
Chegando lá, a água turva da prainha, aquele vento forte que descabela até pensamento, poças de lama alternadas com terra, areia e dejetos de animais. Romeu perguntou se eu queria jogar sinuca (jogo que na minha cultura, só é praticado em butiquins por pessoas alteradas devido a ingestão compulsiva de bebida alcoólica).
"-Pra quem nunca jogou tu esta muito bem". Disse Romeu. Não contei pra ele que já tinha jogado isso uma vez no boteco com meu pai, experiências da infância.
Romeu desistiu de jogar comigo, ele já tinha ganho, passou para minha cunhadinha terminar o jogo comigo enquanto ele ia disputar uma emocionante partida de bocha ( jogo que na minha cultura também só é praticado em butiquins por pessoas alteradas devido a ingestão compulsiva de bebida alcoólica ou então senhores de idade que já não tem mais tantas preocupações a não ser não fazer nada ou jogar bocha).
Na primeira vez que ele foi em minha casa, preparei para ele um super almoço, havia uma carne
especial e macia para o churrasco, como ele gosta, fiz variedades de saladas. Tratei o moço muito bem, obrigada. Lembrei de comentar esse episódio já que na hora de participar do churrasco do
Paquetá, quase não consegui mastigar a carne já que esta, tinha a consistência de um pucha pucha.
Ainda bem que além do churras havia uma salada de batatas e arroz. A panela do cozimento devia ter sido lavada com uma espátula ao invés de uma esponja. Que saudade da minha casa, onde a esponja não é limpa como o pano de uma oficina mecânica.
A parte alta do romantismo foi quando eu, Julieta, sentada sozinha de frente para o mar (poluído do Paquetá), percebo Romeu vindo em minha direção. Ele pergunta:
-Amor, tu esta se divertindo aqui?
-Sim, claro, tudo calmo, tranqüilo, o ventinho forte, é bom pra pensar na vida...
-Ah se tu quiser ir embora...
-Eu, ir, agora. E tu vai comigo?
-Não! Eu vou ficar, se tu quiser, pode ir.
Nunca pensei que pudesse pensar nisso... Achou que eu Julieta, vinda de uma terra encantada e limpinha pudesse não estar feliz alí, ao lado dele, de frente para a poluição, barro, poeira, sujeira, e cheiro de carniça (esqueci de comentar que o bichano que nos rodeava estava cheirando a bicho morto).
Essa aventura terminou após o almoço. Logo, fomos para o shopping, boa comida, clima agradável, cinema, civilidade de volta. Acho que nunca me senti tão bem. Embora sentia que estava escrito em minha testa que vim do Paquetá. Juro que não tenho nada contra quem mora por lá, mas para mim que não estou acostumada, é difícil uma mudança tão brusca de ambiente. Tem gente que gosta de morar na cidade, outras no campo, outras no litoral e outras no Paquetá.
Ao voltar do cinema comentei:
-Romeu, acho que a melhor parte de nosso passeio de hoje foi essa da tarde não é?
Silêncio.
Silêncio.
-Não é?
-Nem vou te responder nada!
Assinado.

Julieta a procura do Romeu do passado.